A Demografia Médica no Brasil – 2023 já está disponível. O documento é o relatório de um estudo realizado pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB), a Fundação Faculdade de Medicina (FFM) e com o apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e do Ministério da Saúde. A pesquisa é uma “produção técnica que tem se revelado importante fonte de informações dirigida a pesquisadores, aos veículos de comunicação, às entidades e aos órgãos governamentais”. Nesse sentido, também percebe-se a sua relevância para análise do cenário atual do mercado de Saúde.
Segundo a pesquisa, o número de médicos no Brasil aumentou. Os números revelam que desde o ano 2000 a quantidade desses profissionais mais do que dobrou – crescimento que foi acompanhado pelo aumento da população geral do país, que subiu em 27% em pouco mais de duas décadas, conforme dados obtidos junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto em 2000 o número de médicos no país era de 219.896, em 2023 essa quantidade saltou para 618.593.
A informação constatada pela Demografia Médica revela que no país hoje em dia existem 2,6 médicos por 1.000 habitantes. Desde 2015, a taxa de crescimento do número de médicos foi minimamente duas vezes maior que o da população brasileira. Entre 2020 e 2022 a taxa foi marcante: o aumento de médicos foi de 8,6%, ou seja, praticamente cinco vezes maior que o da população no mesmo período, que registrou crescimento de 1.6%.
“O ritmo mais lento de crescimento da população geral está relacionado a níveis e padrões dos eventos demográficos de fecundidade e mortalidade. Já o crescimento acelerado da população de médicos ocorre em períodos subsequentes à maior abertura de cursos e vagas de graduação em medicina”, informa o estudo coordenado por Mário Scheffer, professor do FMUSP e Bolsista de Produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Esses números são registrados a partir de um fluxo concentrado na saída e na entrada de médicos na vida profissional. A Demografia explica que o ingresso de médicos recém-graduados no mercado de trabalho, dado o aumento de vagas em cursos de medicina, é maior que a quantidade de egressos por aposentadoria, morte ou cancelamento de registro no Conselho Regional de Medicina (CRM).
Em 22 anos de pesquisa, foram chegando ao exercício médico 330.064 indivíduos, enquanto houve a saída de 34.178 no mesmo tempo, o que representa o acréscimo de 295.886 médicos. No ano 2000, 8.166 médicos entraram na profissão, enquanto em 2021 esse número aumentou para 25.070.
Esse crescimento tende a se elevar ainda mais nos próximos anos, já que os dados previstos para 2025 estimam uma os dados projetados para 2025 estimam uma taxa de crescimento de médicos de 30,7% e, a da população geral, de 3,1%. Sendo assim, haverá neste ano uma taxa de 2,91 médicos por 1.000 habitantes. Em 2035 o número de médicos brasileiros deverá ser de mais de um milhão, sendo a maioria de mulheres e jovens – fenômeno observado desde 2009.
“A juvenização da população de médicos será um fenômeno marcante nos próximos anos, conforme se vê na evolução das pirâmides etárias em três décadas. A média de idade do médico brasileiro vai decrescer e, segundo a projeção, no ano de 2035 mais de 85% dos profissionais terão idade entre 22 e 45 anos. Além de uma população mais jovem de médicos, as mulheres tenderão a aumentar nas faixas etárias inferiores. No ano de 2035, entre médicos até 40 anos de idade, mais de 70% serão mulheres, enquanto os homens não devem chegar a no máximo 60% . O que se depreende da projeção é que, em 2035, a juvenização e a feminização da medicina no Brasil estarão completamente consolidadas”.
Interpretando esse cenário futuro, a pesquisa entende que o aumento do número de mulheres na profissão demanda um acompanhamento a fim de superar a desigualdade de gênero na medicina, já que foi demonstrado também que as médicas recebem salários menores que os dos médicos.
A entrada de mais jovens na área também apresenta um desafio implícito: ao passo que outras gerações vão chegando, mudam também as “aspirações, escolhas e motivações relacionadas a vínculos, jornadas, especialidades, remuneração, uso de tecnologias e conciliação mais equilibrada entre vida pessoal e profissional”.
O que é mais preocupante, no entanto, é que se há expectativa de melhor distribuição geográfica destes profissionais, este desejo não tem se realizado e tampouco aparenta que se realizará futuramente. O estudo revela que em 2035, das 27 unidades federativas, 18 terão densidade médica por 1.000 habitantes abaixo da estimativa nacional de 4,43. Caso não sejam tomadas medidas para mitigar esse problema, a desigualdade poderá ser ainda mais grave que atualmente.
A solução encontrada no estudo poderá se mostrar crucial para o Brasil do futuro. “Será, portanto, necessário rever e impulsionar políticas e programas de distribuição e retenção de médicos em áreas desassistidas e de menor densidade de profissionais por habitantes. Algumas políticas anteriormente adotadas, como incentivos financeiros para locais de difícil provimento e a interiorização de cursos de graduação com vistas à fixação de médicos, poderão ser reavaliadas ou aprimoradas à luz da projeção em diferentes cenários”, sugere a pesquisa.
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