O amplo e constante uso das redes sociais tem gerado debates sobre seu impacto na saúde mental, especialmente entre os mais jovens. O aumento dessas preocupações tem levado pesquisadores de várias áreas a investigarem os detalhes dessa relação. Então, o que as evidências revelam sobre esse assunto?
Um estudo conduzido por Sumer Vaid e colegas introduziu o conceito de “sensibilidade às mídias sociais” para examinar como a relação entre o uso das mídias sociais e o bem-estar varia entre diferentes indivíduos e contextos. Descobriu-se que, em média, há uma pequena associação negativa entre o uso dessas redes e o bem-estar subsequente. No entanto, essa associação variou consideravelmente dependendo de outras características dos participantes.
Por exemplo, pessoas com predisposições psicológicas vulneráveis, como depressão, solidão ou insatisfação com a vida, tendiam a experimentar uma sensibilidade negativa mais pronunciada em comparação com aquelas sem vulnerabilidades. Além disso, certos contextos físicos e sociais de uso das redes acentuaram essa sensibilidade negativa, sugerindo que sua influência na saúde mental é multifacetada e dependente do contexto.
Por outro lado, Amy Orben e outros pesquisadores optaram por investigar como o uso das redes sociais afeta a satisfação com a vida apenas em certas fases do desenvolvimento, como a puberdade e a transição para a independência, aos 19 anos. Isso ressalta como as mudanças neurocognitivas e sociais da adolescência podem intensificar o impacto das redes sociais.
Dado o papel crucial das interações sociais nessa fase da vida, as redes sociais, que medem a aprovação social por meio de “curtidas”, podem aumentar as preocupações com a autoestima e a aceitação. Apesar dessas descobertas, os autores recomendam mais pesquisas sobre o uso das mídias sociais em diferentes estágios de desenvolvimento, para compreender melhor essa interação e formular políticas de proteção à saúde mental dos adolescentes na era digital.
Nesse sentido, a psicóloga e pesquisadora Candice Odgers aconselha cautela ao interpretar pesquisas que estabelecem uma conexão direta entre o uso de redes sociais e o surgimento de problemas de saúde mental. Odgers adverte que, apesar das preocupações legítimas sobre seus impactos negativos, as evidências científicas atuais não confirmam uma relação causal direta. Ela enfatiza a importância de distinguir entre correlação e causalidade e de considerar a influência de uma série de fatores genéticos e ambientais no bem-estar.
Assim, enquanto algumas pesquisas sugerem uma associação negativa entre o uso de mídias sociais e a saúde mental, é crucial reconhecer a diversidade de experiências entre os usuários. Fatores como predisposições psicológicas, contextos de uso e a natureza interativa das plataformas sociais desempenham papéis significativos nessa equação, conforme apontado pelos estudos.
O fato é que as redes sociais vieram para ficar. Até agora, os resultados da pesquisa destacam a importância de adotar uma perspectiva mais abrangente e individualizada ao examinar seus impactos.
Educadores, pais, legisladores e o setor de tecnologia precisam, em primeiro lugar, reconhecer a complexidade envolvida para então elaborar estratégias que minimizem os riscos associados ao uso dessas plataformas. No entanto, não podemos ignorar os benefícios que elas oferecem, como a interação social com pessoas distantes e o acesso à informação, que podem ser benéficos para muitos.
Se não considerarmos esses fatores, corremos o risco de, ao procurar um culpado para os problemas de saúde mental de nossa época, não encontrarmos soluções eficazes e descartarmos o que há de positivo.
Fonte: Folha de São Paulo
Fonte